O CONTRADITÓRIO CAPITALISMO DO SÉCULO XXI
Mais do que uma opção econômica da organização produtiva da sociedade, o capitalismo impôs-se como modelo dominante desde a virada do século XX.
Trata-se, portanto, de avaliar como está impactando a vida de países, estados, organizações e pessoas em sua marcha expansionista (e em suas crises).
Ninguém ignora que tal expansão tem criado desajustes, quer entre países, quer em cada país, numa deprimente desigualdade social global.
A força da globalização redesenha o papel de seus atores. Os mercados se expandem e o Estado perde força.
Há várias revoluções concomitantes de natureza econômica, tecnológica, cultural e ecológica, cada uma com significativos efeitos no comportamento da sociedade. A mudança traz bônus e ônus. Em seus processos, abre perspectivas antes imprevisíveis, reformula modelos de gestão, realinha as potencialidades humanas, reconfigura relações, tudo isso numa velocidade absoluta.
Ainda não se sabe se vivemos uma transição dos modelos existentes (modernização) ou a gestação de um novo modelo ainda difuso (inovação). Há uma conversão de determinismo em possibilismo e só se fala em incertezas quanto ao futuro.
A “destruição criativa“ tem sido vista como a essência do novo capitalismo; é natural destruir para criar o novo. Uma ponderação: quais os limites da inovação sobre os valores embutidos nos processos de transformação?
Tal contexto é reproduzido na vida das organizações e das pessoas que aí trabalham. É aí que paradoxos da racionalidade geram desarranjos na estabilidade. Pressões sobre resultados, limitações à criatividade, qualidade de vida prejudicada, conflitos entre integridade pessoal e falta de ética corporativa são exemplos da nova complexidade das relações entre indivíduos e organizações. Não se espera mais que cidadãos e profissionais absorvam tantos paradoxos com naturalidade e submissão. As utopias estão em baixa no mercado competitivo. AS pessoas estão perdendo?
Como o sistema abrirá espaços em sua estrutura ocupacional para um novo tipo de convivência entre suas partes? As próprias cadeias produtivas globais originam-se na diversidade, mas se completam na interdependência. Centro e periferia se confundem. Visão dualista e centralizadora não se sustenta mais. O novo capitalismo neste século XXI abala os alicerces e as tradições da sociedade industrial, mas não oferece sucedâneos confortáveis. O que parece imutável ou resistente? O que precisa ser feito para reconhecer e acolher práticas transformadoras?
Todos querem, mas não recebem respostas. Por mais que a tecnologia seja maravilhosa, não se justificará completamente enquanto não atenuar a desigualdade que faz pessoas morrerem a bordo de uma jangada, na luta por sobreviver. Nisso, o capitalismo está nos devendo e não podemos achar que não é conosco.
Luiz Augusto Costa Leite